segunda-feira, 10 de maio de 2010

A odisséia nuclear iraniana



A foto acima foi tirada durante a inauguração da primeira usina de combustível nuclear do Irã, em 09 de abril deste ano, Dia Nuclear Nacional no país. Sim, o Irã tem um "Dia Nuclear Nacional" - o que serve como indicador da avidez iraniana pela energia atômica.

A questão nuclear é delicada para qualquer aventureiro em análise internacional. Vários são os fatores de encrenca, se é que assim podemos dizer, e para fazermos nossa tentativa, quanto ao caso iraniano, adotaremos como ponto de partida o TNP (Tratado de Não-Proliferação Nuclear), firmado em 1968 (embora seja permitida a adesão de países a qualquer momento). Israel, o vizinho pouco-querido dos países árabes do Oriente Médio, recusou-se a assinar o tratado e segue desenvolvendo sua tecnologia nuclear, fazendo mistério quanto ao seu possível arsenal atômico. Embora as reclamações dos países árabes do Oriente Médio (todos signatários do TNP), Israel continua adiando a discussão do assunto e as potências ocidentais permanecem silenciosas (o motivo da conivência já recebeu diversas explicações, que vão desde a identificação cultural - Israel foi um reduto ocidental implantado no seio de uma região tradicionalmente árabe-islâmica - até uma possível "indenização histórica" pelos flagelos cometidos na Segunda Guerra). Tal situação é evidentemente desconfortável: comprometer-se a não desenvolver bombas atômicas enquanto um vizinho com o qual se tem atritos pode estar desenvolvendo suas bombas livremente. Um desequilíbrio de poder, que tem resultados impactantes na política internacional.

Por outro lado, o Irã, que é signatário do TNP, recusa-se a cumprir a cláusula de vistoria do tratado. Ao impedir que a Agência Internacional de Energia Atômica inspecione suas atividadades nucleares, o país já permite à comunidade internacional ter uma certa desconfiança. Porém, o presidente Ahmadinejad vai além e diz em declaração à Fars (agência de notícias semioficial do Irã), sem nenhum constrangimento, que a "Morte a Israel" será para sempre o grito unânime do povo do Irã. Aí sim, existe um grande ensejo para a intranquilidade. Embora o presidente iraniano afirme que não tem pretensões de construir uma bomba (pretende usar a tecnologia apenas para geração de energia e tratamento de doenças), o imbróglio concentra ingredientes suficientes para o início de um conflito que, em dado momento, pode vir à apelar para a bomba atômica. Os EUA querem evitar qualquer coisa do gênero, que poderia desorganizar sua estratégia e tirar de suas mãos o controle da situação, e por isso já articulam uma nova rodada de sanções ao Irã no Conselho de Segurança da ONU.

Voltemos à foto, à inauguração da usina de combustível nuclear. Com ela, o Irã poderá produzir combustível suficiente para desenvolver uma bomba atômica em um ano. Uma notícia não muito boa para aqueles que propunham como solução que países "autorizados" pelo TNP recebessem urânio bruto do Irã e dessem, em troca, o material enriquecido na medida certa (para compreender o enriquecimento do urânio, recomendo a leitura de um breve artigo http://operamundi.uol.com.br/noticias_ver.php?idConteudo=2871).

Este é o primeiro "artigo" deste blog sem grandes pretensões, que criei como forma de passatempo e também de estudo. Sou aluno do primeiro ano de Relações Internacionais e escrevo com todas as limitações de um. Quem cair aqui por acaso, que aproveite, e sinta-se convidado a participar da conversa deixando o seu comentário/opinião. Veteranos e galera de pós-graduação, sejam bem-vindos e por favor corrijam eventuais equívocos meus. Porém, gostaria de propor aqui que todos (inclusive eu) assinassem o nosso próprio TNP: Tratado de Não-Pedantismo! Brincadeira; quero apenas pedir que neste blog ninguém atire as pedras da vaidade no outro (infelizmente algo recorrente no meio acadêmico) e que mantenhamos a discussão nos padrões da humildade e da cortesia.

Um abraço!